Apenas uma
questão de tempo | 2008
O corpo-imagem estirado no chão frio da
galeria anuncia a despedida de si mesmo. De suas entranhas a transmutação
constante. Quem poderá estancar o fluxo poderoso da vida? Diante de nós, o
desmoronar silencioso que tanto apavora. Shiva, o destruidor. Finar-se a cada
instante, envelhecer, craquelar-se. A eternidade posta em cheque na fragilidade
da matéria que se esvai. A ruína da carne. Apenas uma questão de tempo, murmura
a aparência do corpo.
A decomposição do papel de arroz - onde
a juventude está impregnada - anuncia a passagem para outro plano de
existência: a perenidade conclamada no punctum primordial da imagem. O
pungir necessário à permanência de significado que acompanha toda a trajetória
poética da humanidade. A individualidade assimilada pela sensibilidade do
outro. A coletivização do ser. Cabe a cada um de nós devorar este corpo-imagem
para que ele sobreviva. Cabe a nós metabolizar o brotar dos grãos de arroz que
negam a inexorabilidade do fim.
Armando Queiroz
* Texto escrito para a Sala especial do Arte Pará 2013.
Impressão fotográfica em papel de arroz (Detalhe).
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